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Neste fim de ano, alguns aprendizados – talvez maturando em mim por meses e anos – pipocaram e amadureceram na minha vida, no meu ser. Por mais maluco que isso possa parecer, na mesma caixa que veio o entendimento da PACIÊNCIA, veio também a necessidade da URGÊNCIA.
Parece meio contraditório, mas não é.
A paciência veio ensinar a me autoperdoar, a aceitar melhor o meu ritmo (tão lento pra algumas coisas, diga-se de passagem), veio me ensinar a esperar os tempos dos processos dentro e fora de mim. Veio me acalmar e dizer que não adiantam comparações e projeções externas, às vezes a gente se demora num caminho, às vezes demoram a cair as fichas, e é devagar que alguns sentidos se revelam. Às vezes levam-se anos para desatrofiar um músculo adormecido, pra abrir um caminho de vida, pra largar um vício. Paciência não é entrega, mas é dar meu passo e também confiar no caminho, é fazer a lição de casa e perceber que não vou me tornar PhD da noite pro dia, da água pro vinho. Paciência é continuar evoluindo, pegando no colo as minhas dificuldades também, dissolvendo minhas sombras à medida que minhas mãos aprendem a tocá-las. É destruir as falsas deadlines e me deixar seguir quanto tempo for necessário, mesmo que levem vidas. Porque a busca é por uma verdade, e os caminhos do autoconhecimento muitas vezes são profundos e escuros. É devagar que encontramos as verdadeiras luzes.
Não é fácil, mas vou com paciência.
E concomitantemente me surgiu a urgência. Uma urgência que de nenhuma forma é contraditória à paciência, porque não é urgência de ações, não é urgência de tarefas a serem desempenhadas. Não é urgência de conquistas, de acúmulos, de coisas, de sentimentos, de pessoas...
A minha urgência é a vida. A vida se faz urgente. Viver é urgente, amar é urgente. É urgente que meus dias não se preenchem com 90% de coisas que não contam, que não somam, que não valem a pena.
É urgente ter meus amigos por perto, não necessariamente fisicamente, mas nas intenções, nos pensamentos, nas conversas, nos compartilhamentos. É urgente constatar o que é real nos dias. É urgente amar mais do que odiar, gastar mais tempo plantando do que derrubando, seguindo em frente do que remoendo. É urgente ancorar e ser resistência na minha própria base em tempos de marés revoltosas.
É urgente desacelerar se for preciso, fugir se for preciso. É urgente me alegrar hoje e agradecer e não perder tempo com o que pesa mais do que eleva, desgasta mais do que acrescenta, cria mais problemas do que ajuda a abrir caminhos.
É urgente que emaranhados de nós sem resoluções sejam deixados de lado, é urgente não carregar nos ombros histórias de vida que não são minhas, é urgente ouvir mas não se confundir. É urgente tirar o corpo fora quando o ser não cabe inteiro, e despovoar desertos e mergulhar nas cachoeiras abundantes de pequenos momentos de felicidades inesperadas.
E no entanto, a minha urgência é paciente e a minha paciência é urgente.
E isso tudo me fez lembrar um poema de Eugénio de Andrade, que deixo aqui com o coração cheio e ao mesmo tempo tranquilo: